quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Governos e ideologias


Governos e ideologias




                Julian Assange, fundador, editor e porta-voz do WikiLeaks, site de denúncias, é australiano de nascimento, porém até pouco tinha cidadania sueca. Julian, desde que publicou naquele site documentos relacionados com o governo americano e outros vem sofrendo retaliações, é  acusado de estupro e processo de extradição. Põem em cheque a teoria da liberdade de imprensa. Sofre pressões das potências e é apoiado por quem? Onde estão os veementes defensores da tal liberdade? De onde me encontro vejo tímidas manifestações.
            Não conta com o apoio maciço e engajados de estudantes universitários, em outras épocas tão atentos às liberdades; ninguém fala em milhares de apoiadores.
O quase silêncio parece orquestrado, recebe tratamento de problema jurídico entre as partes, embora ameace nossas liberdades. Mas não apenas isso justifica o pouco apoio, também o capitalismo, ideologia do acúmulo, reproduz capitalistas, e estamos todos satisfeitos com as possibilidades de ganhos; nos tornamos, assim, construtores da ideologia. Eu e o leitor poderemos discordar, mas é o que o mundo acena aos meus sentidos.
            Governos e ideologias devem ser questionados e o WikiLeaks nos dá elementos para isso. Faz, portanto, bem à sociedade, deve ser apoiado.
Nos ambientes urbanos carneirinhos se prestam a outros propósitos além de afastar insônias. É dado ao cordeiro acordar do sonho? Não é o que se espera. Acordar, nesse caso, significa afrontar alguma das leis de salvaguarda da fauna predadora. Ou aproveitamos a oportunidade, ou somos rebanho.
Mais do que memorandos, a situação expõem a perseguição, a caçada, expõem o comportamento deles, dos lobos.

sábado, 28 de julho de 2012

As Poesias


          Onde estão os poetas, onde está a poesia? Em quantos cadernos se escondem os pensamentos íntimos de anônimos? Existe poesia nas gavetas. Existe poesia latente nos pensamentos incapazes de se fazerem letra. Mas também se leva literatura para a internet e, sabemos, para livros publicados de forma independente ou não. Versos estão por ai. Novos e veteranos acreditam, fazem e insistem.
            Também se encontra poesia em letras de música. Excluídos os sucessos da estação tem muita coisa boa fora da grande audiência. É um dos espaços da poesia, ali ela é essencial. E por essencial, merece aparecer também na forma impressa. Chamo a atenção daquilo que gosto (do pouco que conheço).
           
Aqui, trecho de “A Balada do Perdedor”, de Marcelo Nova:
“A noite parece tão promissora, luzes por todo lugar
Decotes, sorrisos, sussurros: cheiro de conquista no ar
E eu aqui sozinho tentando fazer esse isqueiro funcionar
Parando em frente à porta do paraíso, mas sem vontade de entrar
Os astros cheiram o pó das estrelas e as trombetas estão soando
É no céu que se morre de tédio, os anjos estavam blefando
Eu conheci a mais bela vingança, vestida de noiva no altar
Parado em frente à porta do paraíso, mas sem vontade de entrar”

Nem tudo é tão claro. Natural: é poesia, aberta à interpretação.

Lula Côrtes em “O clone” (parcial):
“Fica difícil
Porque isso pra mim não é só um ofício
Eu podia ser político e fazer comício
Mas prefiro dar uma bola e vir cantar
Eu falo tudo
Dou minha opinião sobre esse mundo
Às vezes de tão triste eu vou mais fundo
Exponho a minha alma na bandeja”

Com a “Alma na bandeja”: é assim que o poeta fala de si, ou de seu personagem.

Trecho de “Não É Céu”, de Vitor Ramil

“Não é céu sobre nós
Dele essa noite não veio
E muito menos vai o dia chegar

Se chegar, não é sol
Quem sabe a luz de um cigarro
Que desaba do vigésimo andar”


            Alguma catástrofe profetizada por Vitor Ramil é o espaço onde se dá o apelo para que a amada fique, não vá embora.
            No momento do menor esforço, do ócio puro, sento e aperto o “Power”. Uma hora em frente ao rádio pode trazer agradável surpresa. E em tempos de miserabilidade artística e de pobres rotinas que o horário nobre acentua, vale a pena vasculhar o rádio na busca de algum sopro de vida criativa.  

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Restringindo a vida

Soube de alguém que teria cedido pequeno espaço de terra a família que dela precisava. Chamou a atenção o fato de que depois de alguns anos um caso de bondade fora traduzido como vínculo empregatício na justiça. Alguém perguntaria: Afinal, como a justiça enxerga a fraternidade? Sim, seria revoltante. Porém, antes da revolta é prudente conhecer os fatos. Concordo, no entanto, que a sociedade pensa, cada vez mais, em termos jurídicos e restringe as filosofias a lucro e prejuízo, por tais aspectos se deixam conduzir. Mas a vida não é só isso, a vida é humana, complexa, precisa ficar ao alcance do cidadão, para que ele a resolva com criatividade. Reduzi-la e empobrece-la. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O tempo


Titus Maccius Plautus


Os deuses instilam ansiedade no primeiro homem que descobriu como distinguir as horas.
Produziram, também, ansiedade naquele que neste lugar construiu um relógio de sol, para cortar e picar meus dias tão desgraçadamente em pedacinhos!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Melhores Escolhas

Melhores escolhas


        Trocam os atores, mas o modelo se repete: Alguma gravação mostrará como agem aqueles por nós escolhidos, escancarando o quão lamentável pode ser a conduta de notórios (ou nem tanto) na política. E as reformas? Tentativas de moralização na política que raro avançam, depois do ânimo ingênuo, a frustração das oportunidades.
          Então me ocorre perguntar o quanto dos atuais políticos são honestos e o quanto são competentes?
         Deveríamos escolher melhor... 
         E se os comparássemos aos que deixaram de se eleger, descobriríamos o quê? Na média quais são os melhores?
         Se me cabe algo de original está no sobressalto que assombra meus pensamentos em momentos de desânimo: De já estarmos escolhendo os melhores. Eles estão no poder. Tenho encarado essa possibilidade como potencialmente verdadeira.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A arte de ler

Breve reflexão sobre a arte de ler

Ler é arte? Seguramente. Tornar-se leitor é partilhar da construção do texto, dando a este todos os significados que as vivências e sentimentos permitirem.
Numa espécie de beabá, comecemos por Marcelino Freire, escritor brasileiro, que disse: “Tem gente que fala que tem influências de outros escritores, acho isso uma sacanagem com o porteiro do prédio, os amigos do trabalho”. O porteiro, o amigo, o estranho na esquina, o cão da vizinha, a vida é a matéria-prima do escritor, da soma de ingredientes surge a ficção; a dose, a mistura, é receita que só deve ser usada uma vez, gerando obra única, original.
Essa obra por vezes vai ao âmago, o leitor a percebe reflexo daquilo que sente. Lembro Mário Quintana: “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele!”
Fruto da criatividade e da sensibilidade, a obra literária, além de “ler o leitor” desvenda, mostra, trás luz ao que não está óbvio. Valho-me de Paul Klee, artista plástico: “O pintor não deveria reproduzir o visível, e sim tornar visível”. Ao que parece, as artes têm o desvendar como aspecto comum. Mas tal não é tão claro, definido. E, por isso, não existe a “versão certa”, a “interpretação definitiva”, o caminho do livro é pessoal e reflete o momento do leitor. É assim que o mesmo livro, lido com intervalo de anos, mostrará aspectos antes ocultos.
Concluo com Robert Bresson, cineasta: “O importante não é o que eles (os atores) me mostram, mas o que eles escondem de mim, e sobretudo o que eles não suspeitam que está dentro deles.” Novamente em outra expressão artística encontro referências sobre as descobertas. O livro que alguém lê não é lido por mais ninguém, compartilha-se apenas o título. O leitor reinventa, a cada leitura, a arte de ler: ele é senhor da interpretação.
Então, pode-se dizer, a cada leitura descobrimos o que o escritor esconde e, sobretudo, o que ele não suspeita estar no seu texto...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Opiniões

          Opiniões


          Todas as coisas podem ser vistas de mais de uma maneira, portanto, esclarecer é desvendar os vários lados de uma determinada questão. Ao mostrar um só ângulo é necessário deixar claro que se trata de opinião da alguém; do contrário, será tendencioso, desonesto. Mas, quantos exemplos se conhece de situações em que especialistas contrários foram chamados para mostrarem seus pontos de vista? Devo ter visto algumas escassas vezes tal acontecer, tão raras que pouco lembro de caso prático para citar. Ressalvem-se os debates políticos, onde cada candidato tem a oportunidade de expor seus pontos de vista e os Tribunais, onde o julgamento resume-se ao embate entre duas teses. Se o resultado não é a perfeição, necessário aprimorá-los.